Antes de entrar no assunto da ausência da Inteligência Emocional, vamos falar do tempo em que se acreditava em curas para todos os males por meio das “sangrias”.
A Cura ou a Morte?
A palavra catarse significa purgação ou purificação. Na medicina padrão do século XIX, essa purificação ou cura era obtida por meio da sangria pois acreditava-se que o mal estava no sangue, então era preciso extraí-lo. Por muito tempo a sangria foi utilizada indiscriminadamente, passando a procedimento comum para a cura de qualquer doença e até mesmo como procedimento periódico em pessoas sadias com o objetivo de prevenir doenças. Havia dias em que todo mundo sangrava, eram os dias de “diminuição do sangue”.
Hoje, as sangrias tomaram outras proporções e outras formas, temos “sangrias organizacionais” que são praticadas mais rápido e de forma menos dolorosa. São catarses que se transformaram em paradigmas (percepções, um conjunto de crenças, uma lente pessoal em que cada pessoa vê o mundo) que ainda persistem em muitas pessoas e instituições.
A ideia é a de descarga emocional em que as pessoas são induzidas a uma série de situações-limite. Como exemplo: passar dias sem comer para sentir o efeito da privação, agredir sistematicamente um objeto para aplacar a raiva, subir em lugares altos e cair em queda livre nos braços das outras para sentirem confiantes e seguras, uivar como lobos para aliviar a ansiedade, banhar-se em piscinas sulfurosas para explorar suas psiques e assim desenvolverem autenticidade na comunicação interpessoal, dentre outras.
Voltando ao parágrafo inicial o problema da sangria é que em vez de curar, acabava matando alguns pacientes.
Como o paradigma era de que o mal estava no sangue, os médicos tiraram grande quantidade dele num período de 24 horas para se ter uma cura mais rápida. Hoje nós somos aconselhados a não doar mais do que um litro de sangue a cada sessenta dias, isso se estivermos em boas condições de saúde. Na atualidade, nem médicos nem pacientes aceitam essa prática, existem procedimentos melhores e mais científicos para se obter a cura. Mesmo assim muitas pessoas morreram até que se provasse que a sangria não era tão benéfica assim.
O que Dizem os Maiores Estudiosos do Assunto
Por muitos anos os psicólogos americanos como Salovey e Mayer, estudam e discutem a catarse, comprovando cientificamente que além de não ajudar, quanto mais nos expressamos catarticamente, pior tendemos a nos sentir emocional e fisicamente (ao menos até que a exaustão se imponha).
Com base nesses pesquisadores, os quais compartilho em meus treinamentos, pesquisas e métodos, a administração de nossas emoções ou inteligência emocional eficiente não é questão de reprimir ou dar vazão aos nossos sentimentos e sim saber compreendê-los, gerenciá-los e controlá-los com equilíbrio e autoconsciência.
Profissionais Inteligentes Emocionalmente
Pessoas e profissionais com habilidades para administrar suas emoções e sentimentos são inteligentes emocionalmente, costumam ter um temperamento estável, pensam com clareza ao experimentar emoções fortes, tomam decisões equilibradas entre o coração e a razão. Isso significa autoconhecimento, autogestão e autoconsciência o que reflete nas ações de cada pessoa.
Só conseguiremos administrar os outros, ou seja, liderar equipes e organizações eficientes, quando formos capazes de “administrar a nós mesmos” com autoconhecimento, autoequilíbrio, sem ações catárticas e sem praticar “sangrias” que gerem maior desconforto físico e emocional.